Já foi descrito anteriormente, que os depósitos de amilóide apresentam afinidade selectiva para o Vermelho do Congo e birrefringência verde maçã na deflexão da luz polarizada.
Nos estágios precoces da PAF existem já, agregados de TTR, não fibrilhares, negativos para a coloração com Vermelho do Congo.
Vermelho Congo ou vermelho do Congo é o sal sódico do ácido benzidinodiazo-bis-1-naftilamina-4-sulfônico (fórmula: C32H22N6Na2O6S2; peso molecular: 696.66 g/mol)
Em estádios mais avançados, estes agregados, coexistem com depósitos maduros de material fibrilhar, depósitos de amilóide.
Várias moléculas têm sido testadas, na tentativa de apurar o seu potencial para impedir a formação de fibrilhas de amilóide. Algumas destas moléculas têm-se mostrado capazes de o fazer, a partir de diferentes precursores amiloidogénicos, deixando entrever um mecanismo comum na formação da substância amilóide.
As tetraciclinas afetam nos mamíferos, diversas funções celulares, incluindo a proliferação celular, a apoptose, a migração e a remodelação.
Recentemente foi demonstrado que as tetraciclinas têm o poder de degradar, in vitro, fibrilhas de amilóide, apesar de não inibirem a sua formação até determinado estadio.
Outros estudos têm implicado as tetraciclinas, como agentes no tratamento das amiloidoses. Como se trata de um grupo de antibióticos com um perfil seguro, poderão ser utilizados como potencial tratamento das amiloidoses.
Um estudo realizado no Instituto de Biologia Molecular e Celular do Porto, levado a cabo pela equipa da Dra. Maria João Saraiva, analisou o efeito do tratamento com doxiciclina (uma tetraciclina) em ratos transgénicos, portadores da mutação Val30Met.
Drª Maria João Saraiva
Verificou-se que a doxiciclina foi capaz de degradar os depósitos de amilóide maduros instalados, visto que através da análise tecidular, em animais tratados com a droga, não se detetaram as características tinturiais específicas para a substância amilóide, após coloração com Vermelho do Congo.
Em contraste, em 81% dos animais não tratados, foram detetados, pelo mesmo método, depósitos de amilóide.
Foi também concluído que a doxiciclina não é capaz de atuar sobre os agregados não fibrilhares. A carga de TTR não fibrilhar, detetada, foi igual nos dois grupos. Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos in vitro, mencionados anteriormente.
Este estudo evidenciou, pela primeira vez, os efeitos benéficos da doxiciclina na PAF, in vivo, promovendo assim, esta droga como uma promissora molécula no tratamento desta e de outras amiloidoses.