PAF tipo I (tipo português ou de Andrade), não tem hoje melhor descrição do que a aquela que foi feita por Corino de Andrade, no “artigo original”, publicado em 1952, “A peculiar form of peripheral neuropathy – amyloidosis, atypical, and familiar, with special involvement of peripheral nerves”.
Com os avanços da bioquímica e da genética molecular, ao longo de anos foram-se revelando os “segredos” anatomopatológicos desta entidade patológica, como a deposição sistémica extra-celular de fibrilhas amilóides no tecido conjuntivo, exceto no cérebro e parênquima hepático, afetando particularmente o sistema nervoso periférico (SNP); e a identificação da Transtirretina (pré-albumina ou TTR), como a proteína associada aos depósitos de amilóide.
A TTR é uma proteína que é sintetizada 90% pelo fígado, mais concretamente no hepatócito. O epitélio pigmentar da retina e as células epiteliais dos plexos coroideus no cérebro são responsáveis por parte da síntese extra-hepática de TTR, o que explica a deposição de amilóide no vítreo e nas leptomeninges. O seu nome, TTR, descreve as suas funções: transportar a vitamina A, o retinol e a tiroxina. A TTR é uma proteína tetrâmera, relacionada com o transporte da proteína de ligação ao retinol (RBP), proteína de ligação da vitamina A, de lípidos e da tiroxina.
Em situações normais, a TTR que circula no sangue é solúvel, no entanto, quando mutada torna-se insolúvel acumulando amilóide nos tecidos, o que provoca lesões sistémicas.
Estão descritas mais de 80 mutações, mas nem todas são patogénicas. A mutação TTR V30M, que consiste na substituição de um único aminoácido, de valina por metionina, na posição 30 do cromossoma 18, é a mais comum, pode ser encontrada um pouco por todo o mundo, embora tenha o seu maior foco em Portugal. É esta a mutação associada à PAF tipo I (tipo Português ou de Andrade).
Esta mutação do gene da TTR, é a razão pela qual a doença se transmite de pais para filhos, de uma forma autossómica dominante, com carácter mendeliano simples, tendo cada filho 50% da probabilidade de herdar esse gene, independentemente do sexo, ficando desse modo portador da doença.
A Paramiloidose não se encontra ligada ao sexo, mas existe uma evidente predominância de pacientes com expressão clínica da PAF, do sexo masculino. Num estudo envolvendo 1072 pacientes com PAF, encontrou-se uma relação entre homens e mulheres de 1,45 / 1, associada a uma relação das idades médias para o inicio da doença entre homens e mulheres, de 31,7 / 34,8, pelo que se pôde concluir que as mulheres manifestam a doença mais tardiamente, existindo mais mulheres do que homens assintomáticos.
Nos doentes portugueses, há influência entre o sexo do progenitor transmissor da doença e a idade de apresentação da mesma, conduzindo a transmissão materna a um inicio mais precoce e a paterna a um inicio mais tardio da doença. Relacionando o sexo do progenitor e do doente, verificou-se que os filhos de mães com esta doença, a manifestam mais cedo, enquanto que as filhas de pais com a doença, a manifestam mais tardiamente.
Esta amiloidose atinge o jovem adulto (20 e os 35 anos), o seu quadro clínico é geralmente constituído por uma neuropatia periférica, que afecta as fibras não mielinizadas, dando origem a alterações autonómicas e termo-álgicas. Como uma árvore que atingida no seu tronco, começa a secar pelas partes mais afastadas dos seus ramos. A PAF apresenta-se com manifestações autonómicas, sensitivas, e motoras, afetando os nervos periféricos, que conduz em poucos anos à incapacidade, por atingimento progressivo da sensibilidade e da mobilidade dos membros. Ainda não se sabe sobre a PAF, qual dos factores provoca a degenerescência dos nervos periféricos. Se é a substância “amilóide”, se é a TTR V30M, ou mesmo a falta de TTR normal. Podemos contudo afirmar que a deposição da substância amilóide, precede claramente o início da sintomatologia clínica.
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